Com a promessa de ser uma das principais respostas ao desafio da transição energética definida pela suposta crise climática, os veículos elétricos não estão atendendo às expectativas depositadas como vetores da “descarbonização” da economia global. Ao invés, podem se tornar uma das principais evidências da falta de realismo factual da transição acelerada dos combustíveis fósseis para combater às mudanças climáticas.
Uma análise da venda mundial de automóveis e utilitários elétricos e híbridos contesta essa afirmativa. Elas passaram de 2,1 milhões de carros vendidos em 2018, correspondendo a 2% do total de vendas globais, para 23 milhões em 2023, 18% do total, com as estimativas para este ano apontando para 24 milhões, em torno de um quinto do total mundial. Aparentemente, um quadro consistente.
Contudo, alguns detalhes passaram despercebidos pelos entusiastas da “descarbonização”.
Veja os mais relevantes.
Primeiro, a China é apontada pela distribuição das vendas como líder mundial, com 60%, seguida pela União Europeia (UE), com 25%, e pelos EUA, com 10%. Isto é, somente 5% dos elétricos/híbridos são vendidos fora desses três países.
A liderança chinesa é devido a diversos fatores: opção estratégica do governo por um setor inovador, bastante subsídios governamentais, por exemplo US$ 100 bilhões entre 2009 e 2023, contratos favorecidos para o transporte público eletrificado, pesados investimentos públicos em infraestrutura de recarga, optar por uma tecnologia de baterias mais eficientes (lítio-ferro-fosfato), e o maior mercado comprador à disposição.
Como em grandes outras áreas, os ganhos de escala e os custos de produção favoráveis proporcionam vantagens aos fabricantes da China (15 entre os 25 maiores).
Por exemplo, um BYD Dolphin Mini é vendido nos Estados Unidos por menos de US$10 mil, muito abaixo do seu concorrente local mais próximo, o Chevrolet Bolt EV, que não sai por menos de US$27 mil. No Brasil, ele é o elétrico mais barato juntamente com o Renault Kwid E-Tech, ambos na faixa de R$115-130 mil.
Um incentivo adicional é a data-limite de 2035 para o término das vendas de veículos tradicionais igualmente adotada pela União Europeia e, nos EUA, pela Califórnia.