O Brasil está em uma posição de liderança quando se trata da transição energética mundial, com uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. Porém, para que essa oportunidade seja realmente aproveitada será preciso entender de onde virão os recursos necessários para financiar essa mudança.
O governo brasileiro calcula que os investimentos serão de R$ 200 bilhões em energias renováveis até 2028 no país. Além de que, a Política Nacional de Transição Energética, que foi lançada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 26, prevê R$ 2 trilhões em investimentos ao longo de uma década.
O painel promovido pela UOL intitulado de “Financiando a Energia do Amanhã”, como parte do evento “Brasil do Futuro: Transição Energética”, debateu como esse processo está transformando a economia nacional. A discussão reuniu Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Alexandre Castanheira, head de Debt Capital Markets do Citi Brasil, e Bernardo Sicsú, vice-presidente de Estratégia da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (ABRACEEL).
“Gosto de dividir a transição energética em duas ondas: a primeira aconteceu quando escalamos as energias eólica, solar, grandes hidrelétricas, linhas de transmissão. Elas hoje são tecnologias conhecidas e despertam o apetite do mercado, pois se tornaram de baixo risco. Estamos na segunda onda e precisamos escalar SAF (Combustível Sustentável de Aviação), biobunker (combustível marítimo), biometano, hidrogênio verde, amônia verde, fertilizante verde e metanol. Para isso é necessário capital intensivo. A gente não vai precisar só de dívida, vai precisar também de equity”, afirmou a diretora do BNDES.
E o financiamento?
Para Luciana Costa, bancos de fomento são essenciais nesse cenário de financiamento de novas tecnologias, que ainda são consideradas arriscadas para o setor privado, principalmente por causa das taxas de juros altas e prazos limitados do mercado de capitais brasileiro. “A liquidez do mercado de capitais no país é de 7 a 10 anos. Projetos de transição energética podem demorar mais de 30 anos para dar retorno de capital. Não existe no setor privado a profundidade de prazo necessário. O capital do BNDES é mais paciente e vamos entrar com equity em projetos que vão precisar”, afirmou Luciana.
Bernardo Sicsú acredita que o mercado livre irá impulsionar a transição energética pois, se o consumidor puder decidir, irá escolher a energia mais barata e renovável. Segundo o executivo, dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apontam que 92% dos novos investimentos em geração de energia no Brasil vêm do MLE, respondendo por 40% do consumo nacional.