Os principais gargalos para o desenvolvimento de projetos de energia solar fotovoltaica no Brasil são preços de energia, taxas de juros, oscilação cambial e limitações do sistema de transmissão como revelam empresas com atuação nos segmentos de geração centralizada e distribuída. O país se tornou um dos principais mercados do mundo nos últimos anos, porém ainda enfrenta desafios que impedem o maior aproveitamento da fonte e atração de investimentos.
“O Brasil tem muitas oportunidades e muitos riscos. Os três principais desafios são a taxa de juros, a desvalorização do Real em relação ao Euro e a forte variação dos preços de energia no mercado spot, relacionado às condições hídricas”, declarou o Otmane Hajji, Presidente da GreenYellow global.
A empresa francesa completou uma década de atuação no Brasil em setembro e possui mais de 80 contratos de usinas, acumulando mais de 250 MWp em projetos fotovoltaicos na geração distribuída (GD). De acordo com o executivo, o país corresponde a 20% da receita da GreenYellow.
“Nós não vemos como o Brasil um país, mas como um continente, com potencial gigantesco. Nós estamos só no começo. Nosso investimento anual é de cerca de R$ 400 milhões e a ideia é acelerar”, declarou Hajji.
Nelson Falcão, diretor sênior de negócios da Nextracker, ressaltou que o segmento de geração centralizada, composto por usinas de grande porte, vem lidando com questões complexas no Brasil, com relação aos preços de energia e a restrições do sistema de transmissão.
“Com as chuvas que tivemos na temporada passada, o nível dos reservatórios subiu, reduzindo os preços. Nesse ano, os níveis começaram a baixar, então há perspectiva de que os preços voltem para patamares que façam sentido para projetos solares até o final de 2025”, informou o executivo.
Ele destacou que é necessário que esses valores sejam de R$ 180 a R$ 200/MWh para que o investimento em usinas fotovoltaicas seja atraente. “Geralmente os projetos são desenhados para 25 a 30 anos. Nessa equação, a venda da energia ao longo desse tempo tem que compensar e dar retorno para os investidores.”
Outra questão são os cortes de geração renovável (constrained-off ou curtailment) estabelecidos pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), devido às restrições de escoamento no sistema de transmissão. “Há muita dificuldade em algumas plantas, que estão tendo que não gerar energia no começo do dia”, afirmou Falcão.
“Esperamos que isso seja mitigado com os leilões de transmissão e de subestações que ocorreram recentemente, à medida que os projetos entrarem em operação. Assim, os desenvolvedores vão ter mais segurança que poderão injetar a energia no sistema. Essa é uma parte importante da equação.”