A possível retomada do horário de verão como uma tentativa de economia do preço da conta de luz por causa da seca extrema que está atingindo o país não foi bem aceita pelo setor aéreo. Extinto em 2019 no Brasil, essa mudança repentina pode afetar negativamente a aviação causando o aumento nos custos das empresas, que são repassados diretamente no custo da passagem aos consumidores.
O governo atual quer a volta do horário de verão, porém alguns cientistas estão alertando de que isso seria prejudicial à saúde do brasileiro. Um Manifesto assinado por 26 cientistas se posiciona contra a medida. Os profissionais são de áreas como cronobiologia, ciência responsável por estudar os ritmos e os fenômenos biológicos.
Os cientistas defendem que os malefícios para a saúde são maiores que os benefícios econômicos, uma vez que várias funções do organismo (como sono, apetite e humor) estão intimamente ligadas ao ciclo de luz e escuridão.
Com isso, a mudança de horário força o organismo a se readaptar de maneira rápida, confundindo a sincronização do organismo podendo até mesmo resultar em doenças, como distúrbios do sono, aumento de eventos cardiovasculares adversos, transtornos mentais e cognitivos, e o crescimento no número de acidentes de trânsito nos primeiros dias depois da alteração.
É mencionado no manifesto um estudo realizado em 2017 pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) que analisou o modo como os indivíduos enfrentam a transição de horário. No total, em o torno de 12.467 voluntários participaram e o resultado mostrou que mais de 45% da população stá desconfortável com essa mudança.
Leia o Manifesto na íntegra:
Manifesto contra o retorno do Horário de Verão no Brasil
O horário de verão foi historicamente introduzido sob a justificativa de economizar energia, ao alinhar as atividades sociais com mais horas de luz natural no final do dia. No entanto, vários estudos científicos apontam que os malefícios à saúde provocados por essa mudança superam os supostos benefícios econômicos esperados, sendo crucial a abolição definitiva do horário de verão.
Ao longo de milhares de anos, os ritmos biológicos humanos estiveram alinhados ao ciclo natural de luz e escuridão, regulando funções essenciais como sono, apetite, funções cardio-respiratórias, desempenho cognitivo e humor. A exposição à luz natural, especialmente pela manhã, é crucial para sincronizar nosso “relógio biológico” com o ambiente.
Com o avanço da vida urbana e o uso de luzes artificiais, especialmente de dispositivos eletrônicos, esse alinhamento natural tem sido prejudicado. A introdução do horário de verão agrava ainda mais essa dessincronia entre o ritmo biológico e os horários social e ambiental. A mudança repentina no “horário social” interfere na sincronização do corpo com o ciclo natural, forçando o organismo a se reajustar.
Portanto, para preservar a saúde e o bem-estar da população, recomenda-se a adoção do horário padrão durante todo o ano, sem ajustes sazonais (horário de verão). Isso evitaria os efeitos negativos promovidos pelo horário de verão e promoveria um maior alinhamento entre os nossos ritmos biológicos e os horários social e ambiental, contribuindo para uma sociedade mais saudável e segura.
O presente manifesto reflete a posição de cientistas e especialistas em cronobiologia que, com base nas evidências científicas mais consolidadas, endossam a abolição do horário de verão. Esse posicionamento é coerente com aquele apoiado por sociedades científicas internacionais, que têm defendido, de maneira consistente, a eliminação dessa prática ao redor do mundo.
Vale ressaltar que o manifesto independe de qualquer posição político-ideológica partidária, sendo fundamentado exclusivamente no conjunto de pesquisas que demonstram os impactos negativos do horário de verão sobre a saúde humana, o bem-estar e a produtividade.
Assinam este manifesto os seguintes pesquisadores: Cibele Aparecida Crispim (UFU), Carolina Virginia Macêdo de Azevedo (UFRN), Claudia Roberta de Castro Moreno (USP), Daniel Alves Rosa (UFG), Eduardo Henrique Rosa Santos (UFU), Elaine Cristina Marqueze (Fundacentro), Felipe Gutiérrez Carvalho (HCPA), Fernando Mazzilli Louzada (UFPR), Fernanda Gaspar do Amaral (UNIFESP), Giovana Longo-Silva (UFAL), Gisele Akemi Oda (USP), Jefferson Souza Santos (UFPR), John Fontenele Araújo (UFRN), Leandro Lourenção Duarte (UFRB), Lúcia Rotenberg (Fiocruz), Luísa Klaus Pilz (Charité Universitätsmedizin Berlin), Luiz Menna-Barreto (USP), Maria Nathália Moraes (UNIFESP), Maria Paz Loayza Hidalgo (UFRGS), Mario André Leocadio Miguel (Northumbria University), Maristela de Oliveira Poletini (UFMG), Michael Jackson Oliveira de Andrade (UEMG), Paula Bargi de Souza (UFMG), Rodrigo Antonio Peliciari Garcia (UNIFESP), Tatienne Neder Figueira da Costa (UFT) e Tiago Gomes de Andrade (UFAL).