Nos últimos anos, a China passou a dominar o mercado mundial de energia solar. Quase todos os painéis solares globais são fabricados por alguma empresa chinesa. Até mesmo o equipamento para fabricar esses painéis solares são produzidos quase inteiramente pela China. As exportações dos painéis, medidas pela quantidade de energia que produzem, aumentaram mais 10% em maio em relação ao de 2023
Porém, o setor doméstico de painéis solares da China passa por uma grande turbulência. Os preços no atacado caíram quase pela metade no ano passado e despencaram mais 25% neste ano. Os fabricantes chineses estão em competição por clientes cortando os preços muito abaixo de seus custos, e ainda continuam construindo mais fábricas.
A diminuição nos preços afetou severamente as empresas de energia solar chinesas. Os valores das ações de seus cinco maiores fabricantes de painéis e outros equipamentos caíram pela metade nos últimos 12 meses. Desde o final de junho, pelo menos sete grandes fabricantes chineses alertaram que anunciarão grandes perdas para o primeiro semestre deste ano.
A agitação no setor de energia solar em meio à enorme capacidade das fábricas e ao crescimento das exportações destaca como é a formulação da política industrial da China. O governo decidiu, há 15 anos atrás, dar amplo apoio à energia solar e, logo após, deixou que as empresas o retirassem. Pequim demonstra alta tolerância para permitir que as empresas tropecem em grande número.
As políticas de Pequim em relação a não poupar gastos são foco especial, já que a China está dobrando as exportações de fábricas para compensar a desaceleração da economia doméstica, atraindo críticas dos Estados Unidos, da União Europeia e de outros parceiros comerciais.
O Partido Comunista da China pediu mais investimentos em segmentos de alta tecnologia, incluindo o de energia solar. O ex-presidente Donald Trump em seu discurso da semana passada na Convenção Nacional Republicana, pediu o fim dos programas de energia renovável do governo Biden, que ele classificou como um “novo golpe verde”.
O crescimento e a queda da Hunan Sunzone Optoelectronics em Changsha, capital da província de Hunan é um estudo de caso de como as políticas da China estão funcionando.
Desde que começou, em 2018, a fabricante de painéis solares se aproveitou desde o início de praticamente todos os subsídios possíveis. Ela obteve 8,9 hectares de um terreno nobre no centro da cidade quase de graça. Um dos grandes bancos estatais da China conseguiu um empréstimo a uma taxa de juros baixa. O governo da província de Hunan concordou em pagar a maior parte dos juros.
Mesmo com a ajuda financeira, a fábrica da Sunzone agora está vazia. Uma grande placa “Sunzone” no segundo andar se encontra em Changsha. A única pessoa que ainda trabalhava no local, um guarda de segurança, disse que o equipamento de fabricação foi removido em janeiro e que a fábrica estava pronta para ser demolida e transformada em prédios de escritórios.
A empresa Sunzone é um exemplo de como os empréstimos generosos dos bancos estatais e os generosos subsídios locais produziram excesso de capacidade de produção. As empresas de energia solar diminuíram drasticamente os custos e os preços para manter a participação no mercado. Isso levou a alguns poucos sobreviventes de menor custo, ao tempo que muitos outros concorrentes foram expulsos dos negócios na China e no mundo todo.