Neste ano, a histórica crise no abastecimento do Sistema Cantareira, que atormentou o estado de São Paulo e diversas famílias no estado, completa dez anos. Na ocasião, após período de seca, a crise de falta de água nos domicílios atingiu nível recorde, quando, no mês de março de 2014, foi registrado apenas 15% da capacidade total do reservatório, o menor percentual desde a sua construção, em 1974.
O cenário de calamidade pairou sob a região metropolitana da cidade de São Paulo, região coberta pelo abastecimento da Cantareira, uma vez que, na época do ano em questão, esperava-se que o reservatório atingisse um percentual de, pelo menos, 60% de sua capacidade.
Além de escassa, a água é um recurso essencial não apenas para a sobrevivência humana, mas também para o bom funcionamento de suas atividades industriais. A disponibilidade de água doce no planeta corresponde a apenas 3% e a sua importância para a produção em atividades econômicas piora ainda mais a problemática mundial da gestão de água.
De acordo com dados do estudo realizado em 2020 pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, é necessário 15400 litros de água para produzir apenas um quilo de carne bovina. Para produzir a mesma massa, demanda-se 8800 litros para carne de cordeiro, 4300 para carne de frango, 4100 para legumes e 1600 para cereais, por exemplo.
Isto posto, comprova-se que, além do papel crucial da água para a sobrevivência humana e atividades domésticas, ela também desempenha uma função igualmente essencial na economia e na produção de energia, matéria prima e sistema operacional do setor industrial, como no funcionamento de maquinário – resfriamento de caldeiras, por exemplo -, limpeza, esterilização etc.
Governos preocupados
A projeção de aumento da população mundial também é uma pauta que preocupa as organizações governamentais e não governamentais no tocante ao meio ambiente e o acesso à água.
De acordo com dados do Relatório Mundial da ONU sobre o Desenvolvimento da Água 2023, a população que encara a escassez de água vai dobrar de 930 milhões em 2016, para uma projeção potencial que varia entre 1,7 bilhão e 2,4 bilhões de pessoas até 2050, ano no qual a população global terá aumentado em 3 bilhões de habitantes. Além disso, é relatado que mais de 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo não têm acesso a água potável e 3,6 bilhões não têm acesso a um saneamento adequado.
O Brasil, no entanto, é a maior potência hídrica entre todas as nações do mundo. O país tem a maior reserva de água doce do mundo, com 8233 km³, o maior rio do mundo, o Amazonas, e três das dez maiores usinas hidrelétricas do mundo: Itaipu, Belo Monte e Tucuruí.
Ainda assim, os impactos das mudanças climáticas ao redor do mundo, que resultam em oscilações extremas, como períodos de inundações, chuvas intensas e, por outro lado, longos períodos de seca, também preocupam, pois pode originar uma crise próxima, similar ou, até mesmo, pior do que a crise da Cantareira em 2014.
Considerando tais fatores, a Agência Nacional das Águas (ANA), direciona seus esforços para otimizar o abastecimento, gestão e aproveitamento da água doce no Brasil: “Diante do cenário de mudanças no clima, a Agência Nacional de Águas (ANA) implementa medidas para aumentar a segurança hídrica e a capacidade do Brasil de se adaptar a novos cenários. A ANA também promove reuniões técnicas, dá apoio ao desenvolvimento de grupos de estudos científicos e elabora documentos de diretrizes e planos de recursos hídricos”.