Ao longo dos últimos anos, a Europa multiplicou sua produção de energia por fontes renováveis, sejam elas eólicas, hidrelétricas ou solares. Mais recentemente, o sonho da energia renovável a custo zero tem se tornado realidade para diversos consumidores, mas não deixa de ser um dilema para os governos.
O continente contou com uma superprodução de energia renovável em diversos meses de 2023, mas não a utilizou de forma eficiente, mostrando-se incapaz – ao menos no momento – de gerir sua produção. Inconstante, a geração de energia eólica e solar resultou em números diferentes do previsto, excedendo as espectativas.
Dessa forma, o mercado foi pego de surpresa. O aumento da oferta de energias renováveis contou com um impacto direto no lucro dos investidores no ramo da eletricidade. Na Alemanha, por exemplo, a taxa de captação de painéis solares (relação entre o preço que um produtor de energia renovável obtém pela sua eletricidade e o preço médio da electricidade no mercado grossista) caiu de 80%, em 2021, para para 50% em maio deste ano.
Espanha vive dilema com produção de energia por fontes renováveis
A Espanha é outro país europeu que vive um dilema acerca do que fazer nos próximos anos para lidar com o excesso de oferta de energia por fontes renováveis. Desde 2008, a Espanha duplicou sua produção eólica, transformando-a em sua maior fonte de energia renovável, à medida que a energia solar também ganhou um grande aumento em oito vezes sua capacidade na época.
Tal crescimento fez o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, descrever o país como “uma força motriz da transição energética em escala global”. De acordo com as metas estabelecidas por Sánchez, 81% das operações energéticas da Espanha serão abastecidas por fontes renováveis até 2030. Nos últimos anos, o consumo de eletricidade tem diminuído no país.
Torre Rodríguez, chefe de desenvolvimento de sistemas da Red Eléctrica (REE), a empresa que opera a rede nacional de Espanha, elaborou acerca das consequências das mudanças. De acordo com Rodríguez, a produção de energia solar durante o dia é forte, desequilibrando a relação entre oferta e procura e impactando nos preços de energia. “Como o sistema energético tem sempre de ter um equilíbrio – a procura tem de ser igual à geração –, isso significa que houve excesso de produção durante essas horas”, disse ele.
A queda do preço de energia – além de maior eficiência energética que resulta em menor consumo – faz com que menos investidores sejam atraídos à indústria energética da Espanha. Dessa forma, há dois caminhos sendo estudados para o futuro do país: acelerar o processo de eletrificação, diminuindo dependência de combustíveis fósseis; ou armazenar energia.